segunda-feira, 24 de fevereiro de 2020

Capitulo 4 - O Rei do Castelo do Dragao



Buscar aperfeicoamento pessoal incansavelmente.

Estar sempre a servico de seus suditos.

Tomar decisoes sempre baseadas em minuciosos fatos concretos.

Ouvir todas as partes, em diferentes momentos, analisar cada mínima informacao, investigar cada caso a fundo, catalogando tudo, provas, cartas, evidencias com a ajuda de escrivao, juizes e autoridades treinadas para garantir a justica no Reino do Dragao.


Inumeros dossies cheios de averiguacoes de casos resolvidos sendo arquivados para futura pesquisa e comparacao.

Muito trabalho para resolver as questoes de seu reinado e nao permitir jamais diminuir a produtividade dos governados por ele, por questoes pendentes, mantendo, sempre, o padrao do crescimento constante. Sem relaxar jamais.

Desde sua coroacao, nao esteve ausente de suas obrigacoes, nem um dia sequer, pela necessidade de mostrar-se como exemplo a ser seguido.

Estar improdutivo, descansar, passar tempo livre, tudo isso significa perder tempo e causa muita irritacao ao Rei.

Em publico, nao demonstra emocoes. Parece ser extremamente racional e ponderado.

Em seu espaco privado, poucos sabem mas, ele perde o controle. Tem um lado muito emocional, irascivel, que precisa administrar e nao tornar publico jamais. Afinal, um Rei destemperado nao tem credibilidade para representar a justica divina perante a sociedade. Infelizmente, tanto a Rainha, como as princesas, em algum momento, tiveram que experimentar a terrivel transformacao que ele sofre quando suas vontades sao contrariadas. "Como podem questionar minhas decisoes?" "Tanto trabalho envolvido em cada uma delas..." As palavras duras comecam a ser proferidas, ofensas, xingamentos e suas pupilas se tornam gigantes e negras, como os olhos de Ella.

O olhar de serpente significa que ele pode ser capaz de violencia física tambem. Sair discretamente, o quanto antes e sem emocionar-se eh o único jeito de nao virar alvo da furia e escapar das punicoes descontroladas que podem atingir quem quer que seja, culpado ou nao pelo destempero.

Sua torre imensa guarda segredos que algumas poucas pessoas, de alto grau de confianca, conhecem. Suditos fieis. Ha passagens secretas, para que o Rei possa chegar ou sair dos ambientes públicos do castelo quando deseje ou seja necessario surgir ou ausentar-se como num passe de magica.

Corredores que levam a portas de armarios, estantes moveis na biblioteca, onde tem o costume de buscar em antigas escrituras, as respostas que nao encontra em sua propria escrivaninha, para as mais diversas questoes trazidas para sua resolucao.

Sempre que sua mente ocupada comeca a perder o controle, ele se afasta. Se ausenta por uma de suas passagens e desaparece. Jamais se descontrola em publico.

Na infancia, nutria um grande amor por animais, cavalos e caes em especial e por isso, possui lindos exemplares de diferentes racas, criados por especialistas, para raros momentos apreciando a natureza em caminhadas ou cavalgadas que ajudam clarear a mente para tomada de decisoes. Entre outros animais exóticos que aprecia colecionar, catalogar, rotular e possuir.

Ha muito ouro, montanhas de moedas, em constante ingresso e reservas para previnir qualquer futuro problema. A seguranca do Reinado vem em primeiro lugar. Nunca se sabe quanto ouro pode custar cada problema futuro.

Todos no reinado sabem que o ouro do Castelo esta muito bem guardado em um grande salao subterraneo, protegido pelo enorme Dragao do Reino.

Um reptil gigante, todo dourado. Sua pele grossa eh feita de metal impenetravel, super resistente ao calor das labaredas que tem a capacidade de soprar por metros de distancia em pleno voo.

O Rei eh o único a ter acesso ao salao subterraneo onde fica acumulado todo o ouro do Reino do Dragao.

Ele afirma ser o único capaz de controlar o animal mortal que esta sempre a servico nos subsolos, cuidando das reservas de metais preciosos e so aparece voando ao redor do Castelo quando liberado pelo Rei.

Uma cena impressionante e bela mas, muito perigosa.

Apesar de ser um animal encantador e brilhante como um sol ao refletir as luzes do dia ou da Lua, todos no Reino sabem que suas labaredas podem matar, mesmo a muitos metros de distancia. O Dragao Dourado causa ao mesmo tempo medo e encantamento. Muitas cancoes e lendas foram escritas a seu respeito e tornaram o Reino Do Dragao respeitado, aclamado e considerado magico e encantando por outros reinos. O que agrada imensamente ao Rei por atrair muitas relacoes diplomáticas e comercias tambem.

Todo tipo de artista capaz de capturar a beleza e exuberancia do dragao, em pintura ou escultura, ou criar cancoes e lendas a esse respeito, dignas da sua opulencia, recebe grandes quantidades de ouro e a oportunidade de apresentar sua arte no Palacio. Ha inumeras obras expostas pelos corredores e salas em homenagem ao perigoso defensor da riqueza do reinado.

Saude e alimentacao, alem dos animais e da botanica, sao os temas que ele valoriza muito e, como Rei, faz questao de investir na melhoria e pesquisa do setor.

Para ele, o segredo da boa alimentacao esta na variedade. Por isso, boas relacoes comercias com terras distantes sao seu principal objetivo. E para isso, promove muitas festas e banquetes onde, diante do bom tratamento, seus convidados se tornam mais suscetiveis a fechar negocios e importar alimentos e produtos exóticos para o Reino.

E para entreter seus convidados, o Rei tem sempre encarregados buscando novos artistas, músicos, e pessoas com conhecimentos que possam ser agregados as escrituras e enriquecer a cultura do Reino.


Artistas, músicos, astrólogos, escritores sao os seres com que a princesa Maya mais se identifica e busca conversar para trocar conhecimentos e aprender. Experimentar coisas novas e novos saberes eh tudo o que deseja.

O que pode ou nao ser tolerado pelo Rei que, com um simples olhar, eh capaz de comunicar se deve ou nao seguir com a interacao.

Ela sente que esses artistas nao a tratam com igualdade. Sempre com respeito e devocao.

Ela deseja, um dia, poder se relacionar sem o peso do titulo. Seria genial poder trocar experiencias e conhecimento sem o distanciamento de classe que existe nas conversas, apenas por ser filha do Rei.

Pelo menos, com esses seres humanos, apesar da distancia social, ela consegue sentir prazer em conversar e interesse genuino, ate que o Rei ou a Rainha considerem inapropriado o contato, por algum motivo, que Maya jamais poderia compreender, e a fazem interromper o assunto a qualquer momento, sem explicacao.






Voltar a companhia de Ella e as donzelas, por obrigacao, a leva, novamente, a fechar-se em seus proprios pensamentos e aos planos de escapar.


Talvez pudesse fugir em alguma caravana de artistas que entrava e saia pelos portoes em uma das festas. Mas, isso geraria provaveis punicoes fatais a esses pobres seres, tao admirados e queridos, por ajudar-la a realizar seus desejos. Seria preciso escapar sozinha. Sem envolver terceiros e inocentes que com certeza nao teriam misericordia quando descobertos.


Maya nunca entende se as regras que segue sao criadas pelo Rei e mantidas pela Rainha, ou, se a Rainha toma decisoes e atribui ao Rei para controlar suas filhas sob o medo de desagradar ao pai que, por estar sempre ocupado, nao tem tempo para conversar, aconselhar ou mesmo, repreende-las quando necesario. "Seu pai nao vai gostar de saber disso!"


Maya sabe que cada uma das esculturas ao redor do Castelo tem olhos que protegem as muralhas e denunciam qualquer saida que nao seja oficial e feita pelo portao. Caso tente arriscar a propria vida, mesmo assim, descendo as rochas ingremes por metros, para fugir, vai ser vista e perseguida pelo Dragao Dourado implacavel.




Deve haver outra saida...







quinta-feira, 20 de fevereiro de 2020

Capitulo 3 - A Rainha do Castelo do Dragao




Cabelos claros, volumosos. Uma beleza incontestavel, venusiana. O rosto muito bem marcado, os maxilares fortes e a testa reta, ariana. Dentes grandes como perolas, sobrancelhas grossas e olhos verdes como musgo. Muito exigente e cuidadosa.
Responsavel desde crianca.
Cada detalhe para ela importa. Cada gesto tem significado e consequencias. Pontualidade e organizacao em primeiro lugar.
Nunca se sabe na verdade se as regras sao criadas por ela ou se ela foi criada por essas regras todas...
Sempre bem vestida, perfumada e pronta para qualquer eventualidade. Dando sempre o bom exemplo para cobrar com propriedade. Sempre atraente e nunca vulgar.
Suas roupas sempre chamam atencao pelo corte perfeito e alinhado. O corpo sempre ereto e uma postura elegante e poderosa. Uma verdadeira Rainha.

Inumeras regras a seguir e a verificar que estejam sendo respeitadas por todos.
Ha sempre muito trabalho e compromissos. Nao ha muito tempo a perder. Nao se deve demonstrar afeto em público. E nao ha muito tempo livre para vida privada. Afeto eh uma perda de tempo. E o tempo gera riqueza.

"Voce esta atrasada. Dois minutos. Sente-se sem chamar muita atencao, por favor. Como pode ser tao desligada? Onde andava pela manha? Espere pela segunda entrada. Nao vou permitir que sirvam o prato anterior por seu atraso. Entendido?"

"Em duas horas preciso de voce para entreter alguns homens importantes de varias partes do mundo que querem fazer negocios conosco. Cante em todos os idiomas. Algo em frances, alguma cancao em ingles, portugues. Por favor, vista algo muito discreto e muito elegante. Nao se atrase. Preciso que esteja cantando para dar boas vindas e servir os primeiros drinks."

Maya pensa em seus planos, seus instrumentos e coisas que havia planejado desenvolver depois daquele almoco... E estar ali em duas horas significava ter meia hora para preparar-se... E sair da mesa depois de todos os maravilhosos pratos da refeicao serem degustados pela Rainha.

Cada prato um prazer total. Os melhores ingredientes locais e importados. Os melhores cozinheiros todos comandados pela Rainha obedecendo as safras, os melhores alimentos da estacao.

A cada novo sabor a mente de Maya viaja pra longe das conversas serias entre Ella, a Rainha e as donzelas. Ocupando-se das proprias decisoes artísticas para entreter e o tempo parece passar mais rápido do que o esperado. E degustando com prazer as trutas na manteiga com amendoas laminadas. As massas, saladas, sobremesas, frutas maravilhosas...

Quase sempre quando alguma donzela pergunta algo, Maya parece estar no mundo da lua e desconcentrada. O que faz com que tenham plena certeza da sua falta de sociabilidade e tenham mais argumentos para julgar e criticar em suas reunioes em torno da piscina.

Sua mente vai trabalhando sem parar nas melodias, letras, acompanhamentos harmonicos, roupa a vestir... sem tempo para falar sobre superficialidades como todas elas. Profundamente concentrada em seus proprios objetivos e sentimentos.

Quando a Rainha deixa os talheres sobre prato, Maya sai correndo em direcao ao seu espaco magico onde se transforma. A irma desastrada, atrasada e incapaz de ser princesa vira uma interprete, uma cantora, uma musicista. Todas as donzelas aplaudem a contra gosto e se perguntam "mas, como sera que ela consegue?" Nem Ella, nem a Rainha, nem ninguem pode responder. Nao compreendem da onde vem o talento, a vontade de cantar e a voz doce, contralto, o carisma com os convidados, parece magica...

Apenas a Lua, no meio do ceu, minguante, como um sorriso parece apreciar e valorizar de verdade todas as horas sozinha em dedicacao ao seu oficio. Mas, nao importa. Mesmo os aplausos vazios e falsos alimentam sua alma de artista.

A Rainha parece estar muito preocupada com todos os convidados, compromissos, obrigacoes. Muito cansada e ocupada. Mas, na verdade, ela sente imenso prazer em ser anfitria. Em dizer a cada responsavel por cada setor como tudo deve ser feito. E em verificar como se sairam todos e cada detalhe. E seu empenho militar se fortalece com cada banquete bem servido e negocio fechado.

E assim que se da por satisfeita com a musica, determina que Maya deixe o instrumento e participe do jantar. "Comporte-se. Sem euforia, por favor. Sem chamar atencao. Seja Discreta"



Sob controle. Como um canario na gaiola. Por dentro euforia. Por fora distraída, no mundo da lua, sem conseguir participar das conversas superficiais de um jantar como tantos outros... Cheio de pessoas ricas e tristes... Vazias na alma...

Toda a energia contida dentro de si e a vontade de se expressar livremente como o riacho, os passarinhos e sua propria voz pelo ar voltam a nublar sua mente. E o jantar se resume a degustar da deliciosa comida, sozinha, como sempre, distraída com seus pensamentos a imaginar, outra vez, como fugir para o mar.

Fora das muralhas, dos limites, das regras e do conforto oferecido pela Rainha do Castelo do Dragao.








Capitulo 2 - O Jardim Do Castelo do Dragao

O jardim esta todo florido! Como sempre! Tudo bem podado como exige a Rainha.

Ha frutas trazidas de varias partes do mundo no pomar. Todas catalogadas com seus nomes científicos e populares para nao deixar duvida as pessoas que caminham por esses limpos e ordenados espacos verdes ao redor do Palacio, dentro dos muros altos do Castelo.


Ha um roseiral, um orquidario e grandes palmeiras imperiais pelos caminhos longos a perder de vista.
Exemplares de arvores de todo o planeta.  
Maya se distrai completamente experimentado cada fruto do pomar sem preocupar-se com sua cachorrinha totalmente adestrada. Sua sombra fiel.
 "As amoras estavam bem madurinhas, sim. Como previsto. As cerejas tambem! Bonus!"

Com a boca pintada, cor de vinho, de tanto comer, Maya se distrai com o lago do Castelo e vai seguindo o caminho do riacho que alimenta essas aguas ate chegar ao limite. 

O grande muro de rochas enormes, frias, lisas, altas, intransponiveis... O riacho por baixo do arco de pedras se divide em mil pedacos para passar pelas grades profundas, quadriculadas, subaquaticas, que impedem qualquer entrada ou saida, e volta se unir em liberdade ate a nascente nas montanhas onde a mata eh selvagem. 


Maya pensa: Liberdade... "Quanto custa ser livre? Esquecer todas as regras. Como o riacho, deslizar. Naturalmente. Adaptando-me a natureza, ao caminho. Sem planos, regras, limites, muros... Simplesmente viver sem restricoes. Sem imagem publica a ser zelada... Como canarinho voar por sobre as muralhas tomar banho de mar e voltar ao jardim... Como agua ir tomando forma e aprendendo o curso ao caminhar... Como peixes, nadar contra a corrente, entrar e sair pelas grades submersas... O que tenho que renunciar para ser livre? O que tenho que perder para ganhar a liberdade? Acho que estamos ficando atrasadas para o almoco... Estamos um pouco longe... Nao sei se chegamos a tempo de comer! Vamos, Kira! Correndo!"

E ao voltar, o almoco esta longe de ser servido... ha mais de uma hora ate a hora de apresentar-se para a refeicao. Planejar o tempo nao eh coisa para ela... Mas, tempo eh uma dadiva e sempre se pode aproveitar o tempo!

Maya decidi nadar um pouco antes de tomar banho e se arrumar para o publico.


E na piscina, os cabelos claros, cor de mel e olhos negros da irma. A princesa Ella. Com todas as suas oito donzelas que vivem ao redor a paparicar, vestir, pentear, fazer as unhas, tomar banho de sol e piscina, almocar, fazer companhia, e se aproveitar da vida de princesa ate o final do dia quando Ella volta a seu quarto. Uma verdadeira caverna. Toca cheia de gatos de todas as cores. Olhos coloridos, verdes, azuis, amarelos, por todos os lados. Suas pedras preciosas. Seus segredos.
Sempre muito dedicada aos afazeres e ao seu proprio prazer, Ella nao tem tempo pra conversas netunianas com Maya. Mas, no fundo, desejaria ser como ela. Primogenita. Artista. Mas, esse eh mais um dos seus segredos...

Embaixo Dagua, apenas borbulhas e seus propios pensamentos criativos podem invadir sua mente. "A única coisa eh nao passar muito tempo respirando" pensava Maya "o que os ouvidos nao captam o coracao nao sente. Apenas siga nadando."
Mas, a cada curto periodo entre as series nadadas, Maya sabia dos comentarios maldosos da irma com as donzelas. "ela nao eh normal" "nem café da manha tomou..." "nao tem disciplina" "nunca vai dar em nada" "nao serve pra gente" "e essa cachorra louca dela?" "Ela conversa com a cachorra"
"Maluca!" "nao nasceu para princesa..." "nao merece o que tem..."
E risadas maléficas ecoavam pelo ar...

"Melhor fazer de conta que nao percebo nada e nao tentar convencer ninguem do contrario... Essas pessoas nao sao capazes de entender minha percepcao do mundo. Nao eh loucura. Eu amo minha propria sensibilidade e conexao com o mundo criativo. Os sons da minha propria voz. Inspiracao. Prefiro a solidao ao mundo dessas donzelas... Agora, meu melhor vestido e sobrevivo a uma hora e meia dessa convivencia. Com meu melhor sorriso no rosto. Como se nao ouvisse seus julgamentos e palavras inuteis jogadas ao vento... Depois, volto ao meu proprio mundo! Minhas proprias criacoes."

Hora de encarar a realidade e o publico em troca de uma deliciosa refeicao de palacio...





Capitulo 1 - Despertar no Castelo do Dragao





Os primeiros raios de sol comecam a brilhar entre as cortinas macias, cor de leite, das grandes janelas do quarto da princesa. Atrás delas, os passarinhos comecam a cantar na varanda cheia de ervas. Tomilho, alecrim, manjericao roxo e verde, louro, salsinha e muita lavanda. Um verdadeiro jardim perfumado com confortaveis cadeiras para leitura ou para apreciar a paisagem aberta diante do balcao, no alto da fortaleza do Castelo.

Na cama macia, cheirosa, perfumada com essencia de lavanda, a princesa apenas muda de um travesseiro para outro, para evitar o raio de luz que insiste em dizer que o dia comecou e volta a dormir.

Sua mascote, Kira, cachorrinha chinesa peluda como um leao dourado de olhos verdes tambem entende que ela ainda nao dormiu suficiente e volta a se aninhar, na enorme cama, em sono profundo.

Toda a correria do dia a dia do Castelo do Dragao nao incomoda o sono netuniano, cheio de sonhos da cabeca da princesa. Sua mente vive voando durante o dia. Vendo coisas que ninguem mais pode ver ou entender.


Ela consegue se comunicar com os animais e com as ervas da varanda, todas plantadas por ela. Sabe o que eles sentem e do que precisam. Gosta de saber de onde eles vem, como se modificaram ao longo do tempo, por curiosidade...
Tambem pode ver atraves dos olhos das outras pessoas e saber suas reais intencoes por traz do que dizem mas, esse poder consome muita energia... E causa muitos problemas conviver com as pessoas agitadas do dia a dia do Castelo que, ocupadas demais com seus afazeres, nao tem mais sensibilidade ou tempo para lidar com esse tipo de coisa de "mente ou gente desocupada".
Mesmo a familia dela nao eh capaz de compreender que ela ocupe seu tempo com "coisas desnecesarias" como a arte, a voz, os estudos, as pesquisas, as ervas, os alimentos para o corpo e para a alma, a sabedoria oriental, outros idiomas, outras culturas, as interacoes com os animais, as analises sobre esses assuntos tao interessantes para ela.

Por baixo do cabelo ondulado, cor de café, com fios dourados, uma mente cheia de atividade, eletrica, que nao pode descansar nem quando esta dormindo... A criatividade e os sonhos seguem por toda a noite. Tao estranha... Tao diferente da familia... Tao desajustada...
Por tras dos olhos castanhos claros muita sensibilidade... E a memoria de elefante.

Por todo canto do seu amplo quarto ha lembrancas de lugares distantes, livros, quadros, instrumentos musicais e muitos cadernos escritos a mao com todo tipo de informacao que a mente a flutuar no mar de ideias precisa dar vazao, atraves das proprias maos.


E o mar... sua fuga maior. Seu maior amor desde muito pequena. Onde a natureza demonstra sua forca, seu tamanho, subjuga e faz sentir que mesmo uma princesa eh apenas um ser humano, frágil, diante do planeta que habitamos.

Mas, esse amor, eh um dos muitos amores que a Princesa Maya nao pode demonstrar em publico por causa das regras do Castelo.
E todo amor proibido, em seu peito, cresce sem parar. Se transforma em algo maior. Um vicio que precisa se materializar a qualquer preco. Sem que os guardas do Castelo possam saber ou tornar publico.

Antes mesmo do nascer do sol, todos os trabalhadores do castelo ja estao uniformizados e em plena atividade.
Jardineiros, cozinheiros, administradores, massagistas, maquiadores, cabeleireiros, encarregados da limpeza, guardas, para garantir que tudo esteja perfeito para a Rainha e seus convidados.
Lencois brancos de algodao, passados, dobrados perfeitamente vao voltando as prateleiras cheirosas onde tudo esta organizado perfeitamente por tamanhos. Toalhas felpudas, suaves, cheirando a lavanda, todas em perfeita organizacao. Cada talher catalogado, organizado e higienizado para os banquetes enormes e perfeitos da Rainha. Loucas e pratas brilham em armarios de cristal.

Pelo piso gelado de marmore branco e carrara, o som dos saltos dos sapatos da Rainha se movem de um lado para outro verificando o que foi feito e que outras tarefas precisam de reorganizacao.
Nada pode estar fora do lugar. Ninguem pode estar a toa, sem fazer nada.

Quando o sol aparece no horizonte as 6am, todo o café da manha com frutas frescas de todo o mundo, paes, queijos, ovos, laticinios, mel... Os melhores ingredientes do mundo, preparados a perfeicao devem ser servidos para que todos possam iniciar suas tarefas e afazeres para manter a ordem e continuar a produzir para enriquecer o reino do Dragao.

Sair pelos portoes, rumo ao mar, nao eh uma simples questao para Maya. Ninguem eh capaz de entender que ela eh parte do oceano. Ninguem aceita que ela deseje correr riscos e se divertir. Simplesmente a proibem terminantemente viver esse amor. Sua paixao. Sua fuga.

Mas, ela conhece as regras, os horarios e ninguem melhor que ela pode encontrar uma saida.
Se pudesse voar... com certeza fugiria pelo ceu e voltaria sem que ninguem percebesse.
Mesmo sendo princesa, ha desejos que nao se pode realizar... Ha regras a seguir... E ninguem quer, nesse Castelo, enfrentar a furia do Dragao.
Mas, com um pouco de magia e uma ajudazinha da natureza surgiria a saida.

Ela se levanta da cama e decidi sair voando pela varanda do quarto. Da um beijo de despedida na cachorrinha e decidida, simplesmente se joga de bracos abertos como se pudesse voar como uma ave de rapina em direcao ao mar. Em pleno voo, ela se lembra que nao. Nao pode voar.
E comeca a cair em direcao as pedras da montanha do castelo. A sensacao da queda livre antes da dor de se arrebentar pelas rochas da um gelo no estomago... Poderia cair e sobreviver?

De repente, no meio da queda, desperta assustada nos lencois macios de algodao. Da um forte abraco na Kira e relaxa.

Hora de sair do quarto e passear pelos jardins. Toda a correria do café da manha ja passou.
Por nao acordar no horario correto, nao ha café da manha para Maya. Tudo ja foi retirado, limpo e organizado como sempre.

Mas, ela se contenta com uma fruta qualquer que encontre nas arvores do jardim. Sai caminhando e pensa: Estariam maduras as amoras??? Regras sao regras...
E na verdade... ela nem sente fome... so pensa no mar... E como fazer para que esse amor seja uma experiencia real. Como escapar!





Capitulo 4 - O Rei do Castelo do Dragao

Buscar aperfeicoamento pessoal incansavelmente. Estar sempre a servico de seus suditos. Tomar decisoes sempre baseadas em minuciosos fatos...